Em Portugal somos adeptos do “o
que é sexy é bom”! Se uma localidade não tem rede de saneamento ou de água
canalizada, não há problema! Afinal de contas tem um polidesportivo. Se um
cidadão não tem uma casa digna, não importa porque tem uma parabólica! Se um individuo
não consegue pagar as suas dividas, também não faz mal porque continua a ir
tomar o pequeno-almoço todos os dias ao café mais caro da rua!
Vivemos de aparências e da
demagogia dos interesses!
Esta triste sina passa-se também
com o encerramento anunciado do ramal de Cáceres pela REFER e pela RENFE. É
aceite por todos que a ligação geográfica mais rápida e eficiente entre Lisboae Madrid coincide com este ramal ferroviário. Durante muitos anos argumentou-se
a favor da necessidade da construção de uma ligação rápida entre Lisboa e
Madrid por TGV (projecto que custaria milhões de euros). Para os defensores do
projecto era imprescindível haver uma ligação por ferrovia que unisse as duas
capitais no menor tempo possível.
Como o TGV ficou em “águas de
bacalhau”, parece que afinal a ligação rápida entre Lisboa e Madrid já não é
assim tão necessária. Afinal de contas, pelas noticias de hoje, o comboio Lisboa-
Madrid até já pode fazer um desvio até à Beira Alta (sim, não me enganei, é
mesmo Beira Alta….o comboio terá o seguinte trajecto: Lisboa, Entroncamento,
Abrantes, Castelo Branco, Fundão, Covilhã, Guarda e sairá de Portugal em Vilar
Formoso com destino a Madrid!!!!!!!).
Mesmo colocando de lado a
eventual influencia da minha análise por ser natural de Portalegre e por ter
residido vários anos no Concelho de Marvão, esta decisão da CP e/ou da REFER
continua a não fazer sentido:
Do ponto de vista económico, é
natural que o novo trajecto até passe por localidades com mais habitantes, o que
não quer dizer que estes passem a utilizar o comboio Lisboa-Madrid. Para além
disso, muitos dos actuais utilizadores do comboio vão certamente optar por
outras alternativas, nomeadamente o avião, o que implica, em contrapartida, uma perda de
passageiros. Haverá então garantia de obter mais receitas de bilheteira com esta
modificação?? Parece-me que não!
Se a decisão da política de
transportes ferroviários teve por base uma análise custo beneficio, ela deve
ser apresentada ao público e não apenas aos municípios para que desta forma possamos
contrapor e identificar coeficientes eventualmente não considerados na análise,
como o potencial turístico, as assimetrias regionais e muitos outros.
Mas, não pode a REFER, nem a CP, nem
os Municípios, nem o próprio Governo (sejam quais forem as forças politicas no
poder) compactuar com argumentos em defesa de uma ligação rápida entre Lisboa e
Madrid por TGV e ao mesmo tempo serem permissivos com o fecho de um ramal
ferroviário excepcionalmente bem situado geograficamente e que poderia ser
reabilitado facilmente para permitir uma maior eficiência na ligação.
Fechar o ramal de Cáceres é um
erro de estratégia politica e um erro que afecta as trocas logísticas de
Portugal para o exterior.
Portugal fica mais pobre com esta
decisão e fica mais isolado do exterior. Conclui-se que o objectivo do TGV não era
dotar Portugal de uma ligação rápida e directa a Madrid. Seria apenas gastar
milhões de euros num projecto sexy e emblemático.
O Concelho de Marvão e o Distritode Portalegre continuam a ser fustigados pelo desinvestimento dos sucessivosGovernos Centrais com as inevitáveis consequências de perda de população,tecido empresarial em decréscimo produtivo e envelhecimento dos residentes
(verdadeiros resistentes face ao esquecimento político de uma das zonas mais
bonitas do país, embora menos reivindicativas).
Faço votos que os políticos e
decisores do futuro tenham a inteligência e a coragem de manter e renovar a
obra que os outros deixaram em vez de a quererem destruir ou substituir por
opções com eficiência duvidosa e que dependem mais de questões conjunturais ou interesses
regionais do que decisões estruturais com o objectivo de dinamizar o país e
promover o progresso da sociedade!