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sexta-feira, 3 de agosto de 2012

sobre o fecho do ramal ferroviário Beirã - Cáceres


Apresentação do autor no I Seminário Pensar Marvão organizado pelo Movimento por Marvão
Em Portugal somos adeptos do “o que é sexy é bom”! Se uma localidade não tem rede de saneamento ou de água canalizada, não há problema! Afinal de contas tem um polidesportivo. Se um cidadão não tem uma casa digna, não importa porque tem uma parabólica! Se um individuo não consegue pagar as suas dividas, também não faz mal porque continua a ir tomar o pequeno-almoço todos os dias ao café mais caro da rua!

Vivemos de aparências e da demagogia dos interesses!

Esta triste sina passa-se também com o encerramento anunciado do ramal de Cáceres pela REFER e pela RENFE. É aceite por todos que a ligação geográfica mais rápida e eficiente entre Lisboae Madrid coincide com este ramal ferroviário. Durante muitos anos argumentou-se a favor da necessidade da construção de uma ligação rápida entre Lisboa e Madrid por TGV (projecto que custaria milhões de euros). Para os defensores do projecto era imprescindível haver uma ligação por ferrovia que unisse as duas capitais no menor tempo possível.
Como o TGV ficou em “águas de bacalhau”, parece que afinal a ligação rápida entre Lisboa e Madrid já não é assim tão necessária. Afinal de contas, pelas noticias de hoje, o comboio Lisboa- Madrid até já pode fazer um desvio até à Beira Alta (sim, não me enganei, é mesmo Beira Alta….o comboio terá o seguinte trajecto: Lisboa, Entroncamento, Abrantes, Castelo Branco, Fundão, Covilhã, Guarda e sairá de Portugal em Vilar Formoso com destino a Madrid!!!!!!!).

Mesmo colocando de lado a eventual influencia da minha análise por ser natural de Portalegre e por ter residido vários anos no Concelho de Marvão, esta decisão da CP e/ou da REFER continua a não fazer sentido:
Do ponto de vista económico, é natural que o novo trajecto até passe por localidades com mais habitantes, o que não quer dizer que estes passem a utilizar o comboio Lisboa-Madrid. Para além disso, muitos dos actuais utilizadores do comboio vão certamente optar por outras alternativas, nomeadamente o avião, o que implica, em contrapartida, uma perda de passageiros. Haverá então garantia de obter mais receitas de bilheteira com esta modificação?? Parece-me que não!
Se a decisão da política de transportes ferroviários teve por base uma análise custo beneficio, ela deve ser apresentada ao público e não apenas aos municípios para que desta forma possamos contrapor e identificar coeficientes eventualmente não considerados na análise, como o potencial turístico, as assimetrias regionais e muitos outros.
Mas, não pode a REFER, nem a CP, nem os Municípios, nem o próprio Governo (sejam quais forem as forças politicas no poder) compactuar com argumentos em defesa de uma ligação rápida entre Lisboa e Madrid por TGV e ao mesmo tempo serem permissivos com o fecho de um ramal ferroviário excepcionalmente bem situado geograficamente e que poderia ser reabilitado facilmente para permitir uma maior eficiência na ligação.

Fechar o ramal de Cáceres é um erro de estratégia politica e um erro que afecta as trocas logísticas de Portugal para o exterior.

Portugal fica mais pobre com esta decisão e fica mais isolado do exterior. Conclui-se que o objectivo do TGV não era dotar Portugal de uma ligação rápida e directa a Madrid. Seria apenas gastar milhões de euros num projecto sexy e emblemático.


Faço votos que os políticos e decisores do futuro tenham a inteligência e a coragem de manter e renovar a obra que os outros deixaram em vez de a quererem destruir ou substituir por opções com eficiência duvidosa e que dependem mais de questões conjunturais ou interesses regionais do que decisões estruturais com o objectivo de dinamizar o país e promover o progresso da sociedade!