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quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Qual o valor do seu voto em Portalegre?

As eleições autárquicas são sempre dos mais disputados actos eleitorais. Não só os candidatos são mais próximos das populações do que em outras eleições, como as propostas que defendem afectam o quotidiano dos eleitores. Desde o saneamento público, à limpeza dos caminhos, passando pela manutenção dos espaços verdes, as propostas serão muitas (nestas e em outras áreas), variadas e certamente para todos os gostos.

Os actuais executivos deveriam ser avaliados: Cumpriram o programa eleitoral que os levou a vencer as eleições anteriores ou concorrem sucessivamente com as mesmas propostas não cumpridas, esquecendo a sua concretização após o acto eleitoral? Conseguiram inverter a fuga de população e o fecho de empresas ou, pelo contrário, essa foi uma constante dos últimos 4 anos? Seria importante para as populações locais que as recandidaturas esclarecessem o que não foi realizado e os motivos que o impediram.

Mas as eleições autárquicas são, regra geral, mais do que propostas, projectos ou objectivos estratégicos. Há quem escrutine o candidato pela aparência, pela presença em festas ou pela simpatia, preterindo muitas vezes de valores bem mais relevantes como a idoneidade,  a competência e a capacidade de decisão. Estes são os factores que me parecem fulcrais para a qualidade da representatividade dos mandatos autárquicos a favor dos cidadãos.

Independentemente das motivações para votar, não podemos esquecer que se tratam de eleições que vão eleger os representantes das populações nas autarquias locais nos próximos 4 anos. Votar não deve ser um acto de ocasião pouco reflectido.
Felizmente o voto é secreto e isso permite que todos os cidadãos exerçam o seu direito nas mesas respectivas e que o façam em consciência, elegendo o que consideram ser o melhor candidato para representar a sua terra tendo em consideração o seu projecto e a fiabilidade para o executar.

As eleições autárquicas devem  fomentar a discussão entre diferentes ideias para um mesmo concelho e suas freguesias. O melhor voto é aquele que for alheio ao ruido criado como forma de estratégia eleitoral. E, num cenário de crise em Portugal e na Europa, o melhor voto será também para o candidato mais credível que apostar nos recursos endógenos da sua terra para dinamizar a realidade socioeconómica dos seus concidadãos.


Independentemente do vencedor, esperemos que os próximos 4 anos possam representar uma nova etapa para Portalegre e para o orgulho dos portalegrenses! As freguesias, a cidade e o Alto Alentejo bem precisam de uma capital de Distrito dinâmica para enfrentar os desafios do futuro!


artigo publicado também no blog Dinamizar Portugal

quarta-feira, 27 de março de 2013

Desafio autárquico: fazer mais com menos


2013 é ano de eleições autárquicas. Se à primeira vista poderíamos ser levados a pensar que são mais umas eleições, numa análise mais pormenorizada concluiremos que está muito mais em jogo neste ciclo autárquico.
Estas eleições serão disputadas no meio do turbilhão da crise, com diminuição acentuada do rendimento disponível de famílias, empresas  e instituições. A escassez de recursos será um constrangimento para os mandatos autárquicos e obrigará à renovação da própria função autárquica.
Se durante décadas o desejo dos autarcas foi fazer e deixar obra, para o mandato que se avizinha o desafio será mais complexo e menos quantificável em obras de betão. As rotundas, as estradas e os estádios terão de dar lugar a uma actuação de parceria com empresários, associações e comunidades.

A falta de recursos não pode servir de desculpa para uma actuação menos conseguida, muito pelo contrário. Com os efeitos da crise, exige-se que as instituições façam mais com menos. A dinamização do tecido económico existente e o apoio à instalação de novas empresas deve ser um dos principais objectivos políticos. Em localidades onde existem zonas industriais e comerciais em déficit de ocupação, será também a oportunidade para revitalizar os investimentos já feitos e aproveitar as mais valias da existência de redes comerciais e empresariais.
Mas também será necessário fazer mais com menos na relação com os eleitores, através da diminuição da burocracia e da aposta na eficiência dos serviços públicos.

A existência, durante vários anos, de programas eleitorais partidários tão desfasados das actuações politico-governativas tem afastado os cidadãos da politica. Mas nesta fase em que ninguém está alheio das dificuldades financeiras assumo a minha expectativa em ler os programas eleitorais autárquicos dos diversos partidos e verificar a criatividade e capacidade das várias candidaturas para resolverem os problemas de sempre com menos recursos mas com mais exigências!

O poder autárquico não só tem de se reinventar como deve ser o exemplo de uma actuação politica mais credível e eficiente.


Nuno Vaz da Silva
Economista


artigo publicado na edição de 27/03/2013 do jornal "Alto Alentejo"

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

sobre o fecho do ramal ferroviário Beirã - Cáceres


Apresentação do autor no I Seminário Pensar Marvão organizado pelo Movimento por Marvão
Em Portugal somos adeptos do “o que é sexy é bom”! Se uma localidade não tem rede de saneamento ou de água canalizada, não há problema! Afinal de contas tem um polidesportivo. Se um cidadão não tem uma casa digna, não importa porque tem uma parabólica! Se um individuo não consegue pagar as suas dividas, também não faz mal porque continua a ir tomar o pequeno-almoço todos os dias ao café mais caro da rua!

Vivemos de aparências e da demagogia dos interesses!

Esta triste sina passa-se também com o encerramento anunciado do ramal de Cáceres pela REFER e pela RENFE. É aceite por todos que a ligação geográfica mais rápida e eficiente entre Lisboae Madrid coincide com este ramal ferroviário. Durante muitos anos argumentou-se a favor da necessidade da construção de uma ligação rápida entre Lisboa e Madrid por TGV (projecto que custaria milhões de euros). Para os defensores do projecto era imprescindível haver uma ligação por ferrovia que unisse as duas capitais no menor tempo possível.
Como o TGV ficou em “águas de bacalhau”, parece que afinal a ligação rápida entre Lisboa e Madrid já não é assim tão necessária. Afinal de contas, pelas noticias de hoje, o comboio Lisboa- Madrid até já pode fazer um desvio até à Beira Alta (sim, não me enganei, é mesmo Beira Alta….o comboio terá o seguinte trajecto: Lisboa, Entroncamento, Abrantes, Castelo Branco, Fundão, Covilhã, Guarda e sairá de Portugal em Vilar Formoso com destino a Madrid!!!!!!!).

Mesmo colocando de lado a eventual influencia da minha análise por ser natural de Portalegre e por ter residido vários anos no Concelho de Marvão, esta decisão da CP e/ou da REFER continua a não fazer sentido:
Do ponto de vista económico, é natural que o novo trajecto até passe por localidades com mais habitantes, o que não quer dizer que estes passem a utilizar o comboio Lisboa-Madrid. Para além disso, muitos dos actuais utilizadores do comboio vão certamente optar por outras alternativas, nomeadamente o avião, o que implica, em contrapartida, uma perda de passageiros. Haverá então garantia de obter mais receitas de bilheteira com esta modificação?? Parece-me que não!
Se a decisão da política de transportes ferroviários teve por base uma análise custo beneficio, ela deve ser apresentada ao público e não apenas aos municípios para que desta forma possamos contrapor e identificar coeficientes eventualmente não considerados na análise, como o potencial turístico, as assimetrias regionais e muitos outros.
Mas, não pode a REFER, nem a CP, nem os Municípios, nem o próprio Governo (sejam quais forem as forças politicas no poder) compactuar com argumentos em defesa de uma ligação rápida entre Lisboa e Madrid por TGV e ao mesmo tempo serem permissivos com o fecho de um ramal ferroviário excepcionalmente bem situado geograficamente e que poderia ser reabilitado facilmente para permitir uma maior eficiência na ligação.

Fechar o ramal de Cáceres é um erro de estratégia politica e um erro que afecta as trocas logísticas de Portugal para o exterior.

Portugal fica mais pobre com esta decisão e fica mais isolado do exterior. Conclui-se que o objectivo do TGV não era dotar Portugal de uma ligação rápida e directa a Madrid. Seria apenas gastar milhões de euros num projecto sexy e emblemático.


Faço votos que os políticos e decisores do futuro tenham a inteligência e a coragem de manter e renovar a obra que os outros deixaram em vez de a quererem destruir ou substituir por opções com eficiência duvidosa e que dependem mais de questões conjunturais ou interesses regionais do que decisões estruturais com o objectivo de dinamizar o país e promover o progresso da sociedade!




quarta-feira, 25 de julho de 2012

Portugal


Portugal

Terra de sonhadores,
De bravos marinheiros
Terra de tantos sabores
De que fomos pioneiros

Navegámos por mares
Conquistámos terras
Construímos altares
Até no cimo das serras!

Fomos em tempos bravos
Guerreiros duros e sem dó
Agora precisámos ser salvos
Oh Pátria, ficaste tão só!!

Gostamos de olhar para o lado
E invejar o nosso vizinho
Esteja ele a cantar o fado
Ou a beber um copo de vinho!

Somos mestres a criticar
Da politica ao futebol
Não nos façam trabalhar
Antes ir apanhar Sol!

Adoramos promoções
Mesmo sem ter dinheiro
Corremos a liquidações
Pelo país inteiro!

Mas apesar de tanta tristeza
Anos de erros e má gestão
O Sol temos de certeza
Para alegrar nosso coração!

Ainda não batemos no fundo
Este não será o nosso final
País da Europa e do Mundo
Assim te descrevo, Portugal!

quarta-feira, 30 de maio de 2012

O que ganhámos com a Troika?


Desde 2011 que os portugueses têm sofrido as consequências das medidas de austeridade que foram tomadas na sequência do acordo com a Troika. Em época de contenção orçamental é habitual criticar as politicas impostas e os efeitos das mesmas para os contribuintes. Sabemos perfeitamente o que perdemos com a entrada da Troika no nosso país! Mas saberão os portugueses o que ganharam com a troika?

O recurso à Troika, constituída pelo Fundo Monetário Internacional, Comissão Europeia e Banco Central Europeu, foi uma solução de fim de linha. Só pede ajuda externa (e aceita a imposição de condições do exterior) quem já não tem hipóteses para resolver sozinho os seus problemas. Portugal pediu ajuda porque precisava de dinheiro com urgência. Esse dinheiro tinha como objectivo pagar salários, pensões, subsídios e ainda liquidar dividas aos credores, que anteriormente já nos tinham emprestado verbas para gastos e/ou investimentos. Sem a Troika, os portugueses teriam ficado sem receber estes rendimentos e os nossos credores ficariam impossibilitados de recuperar o capital financiado, o que geraria uma enorme crise de expectativas e o inevitável fim do crédito externo.

Com a ajuda internacional, pudemos continuar a receber salários, pensões e subsídios e continuámos a ser um país que respeita os compromissos assumidos ao liquidar as dívidas perante os investidores. Mas, além destas vantagens de índole financeira, Portugal ganhou também uma maior eficiência na gestão das contas públicas, sem contemplações para interesses partidários e/ou de grupos de interesse. O apoio da Troika tornou possível a identificação de lacunas e erros na organização do Estado, na gestão de entidades e empresas públicas, autarquias e regiões autónomas, evitando (pelo menos para o futuro) gastos que seriam ainda mais gravosos se continuassem a ser feitos.

É verdade que as medidas impostas pela Troika são bastante difíceis para todos e podemos até discutir se, em função das especificidades do nosso país, são ou não as mais adequadas. Mas quando falamos dos prejuízos que a Troika nos trouxe, não podemos deixar de imaginar como seria viver num país em bancarrota (ou seja, sem pagar salários, pensões ou subsídios e que não teria mais dinheiro do exterior por não cumprir as responsabilidades assumidas com os credores). Se nenhuma medida de ajustamento tivesse sido tomada, continuaríamos a ser um país com problemas de gestão pública, despesismo não contabilizado e com muitas outras ineficiências por resolver.

Não se trata de apoiar as medidas de um ou outro partido. Aliás, as três principais forças politicas concordam com o plano de ajustamento que está em curso! Trata-se de optar pela solvabilidade sob condições ou pela bancarrota sem misericórdia! E ninguém se iluda porque só seria possível renegociar dividas se ambas as partes (devedor e credores) estivessem de acordo com as condições da renegociação. Mesmo os que defendem o crescimento a qualquer custo, não se devem esquecer que o crescimento sem rigor, é insustentável e perverso no médio prazo!

É relativamente simples e populista afirmar que o plano de ajustamento é mau, que podíamos ter optado por outro caminho ou que as condições impostas são demasiado rígidas. Mas ao fazer isso, devemos indicar qual seria esse caminho e de que forma poderíamos ter uma melhor solução para os problemas do país.

Aos políticos exige-se que apresentem argumentos verdadeiros e que não tentem angariar votos pela demagogia simplista de identificar apenas os prós ou os contras de uma política! Da comunicação social espera-se isenção perante as soluções dos problemas e a explicação dos pontos positivos e negativos das decisões tomadas pelos políticos! Só assim poderemos ser uma sociedade mais evoluída e melhor esclarecida!


Nuno Vaz da Silva
Economista


artigo publicado na edição de 30/05/2012 do jornal "Alto Alentejo"

sábado, 19 de maio de 2012

Discurso/ intervenção por ocasião do jantar comemorativo dos 10 anos de fim de curso Economia - FEUNL 1998-2002


Caros amigos,

Dado que é (pelo menos) o quinto jantar que organizo após conclusão do curso, penso que tenho o direito mas principalmente o dever de dizer algumas palavras!
Ter 70 colegas aqui reunidos passados 10 anos é um facto único na história da Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa! Obrigado a todos os presentes!
Muitos não podem estar aqui hoje porque estão fora do país, outros por razões várias (desde festas familiares a viagens) e algumas colegas foram mães recentemente (ainda bem porque eu gostaria de receber reforma um dia)!
Há também colegas que já não estão entre nós mas não nos esquecemos deles, como é o caso do Filipe Luelmo!
Em 10 anos ficámos mais velhos, mais gordos, com mais rugas (tirando eu que estou obviamente na mesma ou ainda mais jovem). Mas ficámos também mais experientes, conhecemos mais pessoas, temos mais memórias!
10 anos passaram depressa, demasiado depressa!
Há 10 anos atrás, quando nos perguntavam em entrevistas de emprego o que gostaríamos de estar a fazer hoje, duvido que a maioria tivesse acertado nessa premonição. Ou pelo menos, pensaríamos ter melhores condições financeiras e estar a viver num país mais e melhor desenvolvido.
Voltando ao que disse no inicio, este grupo de Economistas é único! Tem um grande espírito de grupo que se reveste nas saudades e desejos do reencontro!

Mas atrevo-me a dizer que aproveitamos mal essa força que nos distingue por dois motivos:

O primeiro motivo está relacionado com o networking que poderíamos desenvolver! Temos aqui colegas que estão nas mais variadas entidades e em diversos países. Mas temos também colegas que se interessam pelas mais diversas áreas: Finanças, Empreendedorismo, Politica, Acção Social, Estratégia. Reparem que não colocamos em acção o nosso potencial de promover redes, de nos lembrarmos dos nossos colegas na nossa actividade profissional quotidiana. Isto que digo não é nada novo! Para além de vir nos livros de gestão, a Universidade Católica coloca em acção estas orientações! E nós não só podemos fazer o mesmo como podemos fazer muito melhor!

O segundo motivo relaciona-se com um comentário que ouvi a um economista com o qual nem sempre concordo. Paul Krugman disse o seguinte na conferência que deu por ocasião do seu triplo doutoramento honoris causa em Lisboa:
“Todo o economista de verdade deve tentar influenciar a politica” e disse mais, “estes não são tempos normais, são tempos de agir”

Claro que muitos de vós alega não ter tempo para agir fora das entidades profissionais mas a realidade é que a maior parte foge destas questões! No entanto, duvido que algum dos presentes não tenha uma opinião sobre o país, sobre as politicas tomadas e sobre as eventuais soluções que poderiam ser implementadas, com maior eficiência. Quando se fala em políticas, não podemos pensar só nas politiquices nem nos partidos. Há politicas nas empresas, nas associações, nas IPSS, nos hospitais… Estamos rodeados de politicas e não podemos ignorar as nossas posições, ou seja, nossa capacidade de influenciar essas mesmas politicas! Ser economista é também isso!
Dirão: este tipo pirou de vez! Provavelmente terão razão! Posso também estar errado mas não é isso que sinto quando falo com cada um de vós! Apenas é usual perceber o receio colectivo em divulgar para o público o que vos vai na alma!
Mas amigos, o tempo passa depressa demais! Qualquer dia estaremos a comemorar os 20 anos de fim de curso! E nessa data gostava que estivéssemos mais orgulhosos ainda pelo que conseguimos, não apenas em termos pessoais, não apenas em termos profissionais mas também em prol da sociedade e do nosso país!

E dou alguns exemplos:

 Por exemplo, porque não tentamos fazer uma lista para concorrer à Ordem dos Economistas! Obviamente que seria para ganhar mas também para perceber qual a nossa capacidade de mobilização e comunicação!??

Outro exemplo, porque não tentar seleccionar uma Instituição de caridade e utilizar os conhecimentos de economia para a projectar socialmente e economicamente?

Mais um exemplo, porque não reavivar a Associação de Antigos Alunos da FEUNL e promover o networking entre antigos, menos antigos e novos alunos que estão na mesma entidade profissional?

E um ultimo exemplo para terminar, porque não aproveitar as potencialidades das novas tecnologias e das redes sociais para fazermos loby em rede?

Estas são apenas algumas dicas! Se este grupo é realmente excepcional, isso significa que podemos fazer mais, fazer melhor e dar qualquer coisa à sociedade! Neste momento de comemorações, não podia deixar de fazer este reparo, desejando que tenham gostado da iniciativa e que o prazer do reencontro nos dê o impulso que necessitávamos para sermos mais Economistas, pela definição do Krugman! Voltando a citar:
“Todo o economista de verdade deve tentar influenciar a politica” (…) “estes não são tempos normais, são tempos de agir”


Para terminar, gostaria de fazer um brinde a nós próprios e desejar a todos muita saúde, com muitos sucessos profissionais e que o próximo jantar seja ainda mais participado!!!!



Nuno Vaz da Silva, 19 Maio de 2012, Palacete Henrique Mendonça em Lisboa

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

“Alentejo Soft Power” – uma oportunidade a explorar

O Soft Power tem vindo a ganhar cada vez mais relevância, em oposição ao antigo poder das potências mundiais caracterizado por poder económico, poder militar e poder de influência.
Mas o que é o Soft Power? O conceito Soft Power surgiu em 2004 com o livro de Joseph Nye denominado “Soft Power: The Means to Success in World Politics”. Traduzido à letra significa poder ligeiro ou o poder brando. Na prática, trata-se da habilidade em utilizar um conjunto alargado de factores endógenos para a afirmação de um país ou de uma região e, com isso, captar investimentos públicos, atrair empresários e turistas. Algumas publicações efectuam rankings anuais de países com base nos soft powers e na capacidade e/ou criatividade em explorar esses pequenos poderes. Um exemplo é a revista internacional “Monocle” cujo ranking tem em consideração factores tão variados como o número de prémios Nobel, o número de medalhas olímpicas, a taxa de criminalidade, o número de ONG`s (Organizações Não Governamentais), o número de turistas ou a quantidade de marcas registadas.
Sendo um conceito relativamente novo em Portugal, há margem para uma determinada localidade ou região apostar nesta área como trampolim para o desenvolvimento. Falando no caso particular do Alto Alentejo, temos inúmeros factores que podem ser considerados soft powers. Dos textos de José Régio, à doçaria conventual, das competições de todo o terreno aos produtos certificados, do “Triangulo Turístico Marvão – Castelo de Vide – Portalegre” à qualidade das nossas águas, das paisagens verdejantes do Parque Natural da Serra de São Mamede aos saberes tradicionais, da cultura do povo à situação geográfica, da qualidade das instalações turísticas à riqueza gastronómica, …. o Alto Alentejo tem um conjunto diversificado de mais-valias que pode promover estrategicamente de forma conjunta com o objectivo de chamar pessoas, trazer empresários, dinamizar a economia.
Como é que o pode fazer?
Com artigos de jornal, newsletters, comentários em blogs, criação/dinamização de grupos e páginas em redes sociais, partilha de vídeos, divulgação das mais-valias em revistas ou fóruns internacionais, criação de associações e movimentos de cidadãos… E, depois de conseguir trazer pessoas, importa não defraudar as expectativas criadas, tornando qualquer vinda ao Alto Alentejo numa experiência única e inesquecível! São estes pequenos factores que podem contribuir para a dinamização de uma localidade, de uma região e de um país.
Sem poderio militar, sem transferências de fundos comunitários, com os cortes ao investimento público, com perda de população e envelhecimento dos residentes e com significativa redução do tecido empresarial, temos de adoptar outra estratégia. Necessitamos de identificar oportunidades e casos de sucesso internacionais (como é o caso dos soft powers) para nos destacarmos e invertermos o ciclo vicioso do subdesenvolvimento de que falei aqui neste mesmo jornal em 20/11/2008.
Através destes pequenos poderes temos a oportunidade de dotar esta região de um verdadeiro desenvolvimento sustentado. Este é um desafio não apenas para as entidades públicas mas também para os cidadãos. Todos podemos, dentro das nossas possibilidades, contribuir para o desenvolvimento integrado do Alto Alentejo!

Nuno Vaz da Silva

Este artigo foi publicado na edição de 15/02/2012 do Jornal Alto Alentejo

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Estado-nação ou "Estado-empresa"?

Leia aqui o meu artigo Estado-nação ou "Estado-empresa"? que o blog Forum Marvão deu destaque aqui

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Feira da Castanha - Festa do Castanheiro, o inicio!

Porque alguns assuntos não podem morrer no esquecimento e porque a história não pode ser um mero romance construido e deturpado ao longo de anos, deixo aqui um link para um artigo publicado no blog Forum Marvão sobre a temática Feira da Castanha - Festa do Castanheiro e remeto o leitor para uma análise cuidada dos comentários a esse artigo:

Relativamente ao mesmo artigo, dado que um dos meus comentários foi levado a 1ª página do mesmo blog, aproveito ainda para deixar o link desse post:

A Feira da Castanha - Festa do Castanheiro é o maior evento socio-economico-cultural do Concelho de Marvão mas o seu nascimento tem sido falaciosamente deturpado ao longo dos anos. Mas ainda estamos a tempo de corrigir as estórias e identificar a verdadeira história e as motivações de quem pensou, delineou e ajudou a construir esta que é provavelmente uma das maiores manifestações socio-gastronómicas do país!

Termino este post com o excerto da parte final desse meu comentário:

"Aquilo que fazemos aos outros é igual ao que nos farão a nós próprios. Culturalmente temos uma limitação que nos bloqueia quando se trata de reconhecer o próximo! No entanto, as Instituições Públicas deveriam ser a antítese desse problema cultural…"

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Competitividade, a falácia dos políticos em tempos de crise!

Nas intervenções públicas efectuadas por diversos membros do Governo tem existido uma sintonia acerca da metodologia para resolução da crise económica e para a dinamização do tecido económico nacional: Competitividade!

Como economista de formação só posso concordar que a competitividade é fundamental para dinamizar um país onde foram cometidos erros grosseiros durante décadas.

Em qualquer empresa, a competitividade é uma palavra presente no léxico diário dos gestores e na estratégia das equipas de vendas e marketing. Mas o que é a competitividade? Agregando e simplificando as várias definições, não é mais do que a capacidade de colocar bens e serviços nos mercados a preços atraentes e qualidade similar com os restantes concorrentes. No sector público, a competitividade implicará uma racionalização das funções do Estado e uma redução dos gastos efectuados por via das receitas de impostos!

Mas a aposta na competitividade não é uma novidade para os portugueses. Os governos eleitos durante as últimas décadas utilizaram demagogicamente esta palavra para ilustrarem os objectivos das políticas que apresentaram ao eleitorado em prol do crescimento do país. Mas, tendo Portugal chegado à actual situação de dificuldades financeiras e insustentabilidade do modelo de desenvolvimento, ou a competitividade não foi suficiente para dinamizar o país, ou tem sido mal implementada….ou, na pior das hipóteses, não é por si, um modelo de desenvolvimento (o que contraria as declarações de alguns políticos e de muitos académicos).

A competitividade não pode ser um objectivo em si mas apenas a ferramenta estrutural onde se podem apoiar algumas decisões de políticas públicas. Para além da competitividade há outras ferramentas que não podem ser esquecidas: análise custo-benefício, análise comparativa histórica, avaliação de políticas públicas, comparação inter-regional, evolução demográfica, coesão…

Se ficarmos apenas pela competitividade, as desigualdades intra-geográficas vão seguramente aumentar: Continuaremos a apostar nas regiões onde existem empresas e a esquecer o restante território nacional. Com isso, mais pessoas deixarão as áreas desfavorecidas do interior e este ciclo vicioso não terminará!

A competitividade é uma estratégia que pressupõe algum equilíbrio inter-regional. Caso este equilíbrio não exista (como acontece no caso português), o Estado não deve abster-se da sua função de regulador. Não pode fechar os olhos ao país desfavorecido e apostar apenas nas indústrias do litoral. Necessita sobretudo de criar incentivos que fomentem a equidade regional, facilitando as mais-valias comparativas de cada nicho de mercado. Não é tarefa simples, principalmente num contexto de crise, mas nenhum membro do governo deveria ter a expectativa de um trabalho fácil na condução dos destinos do país!

Nuno Vaz da Silva

Este artigo foi publicado na edição de 02/11/2011 do jornal "Alto Alentejo"

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Rap da geração enganada!


A crise chegou


E o ordenado não estica

Sem cheta nos deixou

E a Merkel só critica



Gastámos o que temos

E também o que inventámos

O que pedimos e devemos

Até o ouro levantámos



Éramos ricos, ficámos pobres

Mas o dinheiro não sumiu

Sem subsídios, roubam os cobres

Alguém nos destruiu!



A economia está torta

As empresas desesperam

A política finge de morta

E os roubos proliferam!



Na Europa ainda é pior

Todos espremem o seu sumo

Vivem todos na maior

Mas deixam-nos sem rumo!



Comissão, conselho e parlamento

Tantos órgãos para nada

Basta uma rajada de vento

E vamos todos à fava!



Precisamos de gente jovem

Pr` ajudar onde faz falta

Conseguimos fazer muito bem

Onde definha a outra malta



Dêem lugar aos de trinta

Os de vinte também podem vir

Alguém que não nos minta

Pois os problemas está a sentir!



Portugal queremos dinamizar

É essa a ambição

No futuro vamos pensar

Pois esta é a nossa Nação!

quinta-feira, 30 de junho de 2011

A “troika” das autarquias

Durante a recente campanha eleitoral discutiram-se alguns assuntos integrantes do Memorando de Entendimento com a troika mas outros houve que nem chegaram a ser abordados. Uma das matérias que parece ter passado despercebida à comunicação social e aos diferentes candidatos foi o impacto das medidas a impor às autarquias.

Segundo o Memorando de Entendimento há um conjunto de medidas que terão influência directa nas autarquias, nomeadamente as seguintes:

- Efectuar um inventário de bens, incluindo imóveis municipais passíveis de privatização (até Junho de 2012);

- Garantir um decréscimo de 2% ao ano dos funcionários das autarquias locais (até Junho de 2013);

- Redução de 15% de cargos dirigentes e serviços até final de 2012, sendo que o plano de cumprimento da redução deve estar completo em Dezembro de 2011;

- Consolidação (ou seja reorganização e redução) do número de Municípios e de Freguesias (actualmente 308 e 4259, respectivamente), cujo plano deve estar efectuado até Julho de 2012;

- Alargar o Simplex aos Municípios, com objectivo de reduzir a carga burocrática (até Março de 2013);

Estas medidas, especialmente direccionadas para as autarquias locais, foram ignoradas pelos diversos agentes políticos no período eleitoral. Podemos alegar que estavam em causa eleições legislativas e não autárquicas. No entanto, tendo sido os partidos políticos (PS, PSD e CDS) a nível nacional a aceitarem estas condições, não deveriam os cidadãos ter sido esclarecidos sobre a complexidade das mesmas?

Por exemplo, alguém sabe de que forma serão reduzidos em 15% os cargos dirigentes das autarquias? Qual o critério que vai ditar o encerramento de Municípios e Freguesias? Quais as autarquias que serão extintas e onde ficarão centralizadas as “sobreviventes”? Dado que os Municípios são o garante do emprego em muitas regiões do país, que alternativas de trabalho terão os jovens nesses locais?

Os prazos para cumprimento destas medidas são muito exigentes e, para serem cumpridas atempadamente, obrigarão a uma “revolução institucional” ao nível autárquico. A situação do país obriga a esta racionalização de estruturas mas poderão existir vários caminhos para atingir o mesmo fim com custos diferentes para os eleitores.

Dado que o impacto destas medidas afectará sobretudo as regiões do interior, caberá principalmente aos políticos locais e aos órgãos de comunicação social regionais questionarem o poder central sobre as mesmas e os seus efeitos para as populações.

Dependendo o financiamento externo da concretização dos items referidos no memorando de entendimento, urge esclarecer os cidadãos sobre estas e outras medidas que serão implementadas.



Nuno Vaz da Silva

Economista




Artigo publicado na edição de 29/06/2011 no jornal "Alto Alentejo"

quarta-feira, 23 de março de 2011

As diferentes velocidades do Alentejo

Pelos dados da Direcção de Prospectiva e Planeamento do Ministério das Finanças, entre 2000 e 2006 a região do Alentejo registou uma tendência de convergência com a média da riqueza nacional (com uma variação positiva no VAB* de 4.3%), o que seriam óptimas notícias!

Mas, se analisarmos a estatística em detalhe, verifica-se que esta convergência foi conseguida à base de um forte decréscimo da população -4.9% e de uma subida dos preços de 4%, uma vez que a produtividade decresceu igualmente 4%. Ou seja, uma estatística aparentemente simpática pode esconder aspectos muito negativos e gravosos para uma região…




Falar no Alentejo significa uniformizar uma área geográfica de 31.500 m2, com 753.000 habitantes. Há muitos “Alentejos” com diversos níveis de desenvolvimento. Nesta mesma estatística verifica-se que temos um Alentejo Litoral e um Baixo Alentejo em desenvolvimento, impulsionados pela actividade gerada em Sines e Neves Corvo e um Alto Alentejo (representado neste quadro apenas pelo Distrito de Portalegre) e um Alentejo Central (Distrito de Évora) em divergência com percentagens de variação negativa do VAB de -4.9% e de -7.4% respectivamente.

Se isolarmos os valores correspondentes ao Alto Alentejo, o VAB per capita aumentou 3% e o emprego cresceu 2.9% (o que poderiam ser óptimos resultados) mas a população reduziu 7.4% e a produtividade decresceu 7.2%. Aliás, o Alto Alentejo (Distrito de Portalegre) foi a sub-região Alentejana que mais população perdeu em percentagem neste período!

Quando os governantes falam de desenvolvimento regional falam das macro-regiões. Falam de um Alentejo com Sines, com o Aeroporto de Beja, com o Alqueva, com Neves Corvo e com Auto-Estradas que ligam as capitais de Distrito às redes logísticas. Mas a micro-região Alto Alentejo e nomeadamente Portalegre são realidades distintas. A auto-estrada passa em Elvas mas fica demasiado longe da capital de Distrito, as áreas tradicionais como o turismo e artesanato são insuficientes para fixar população e o facto de não existirem investimentos públicos impulsionadores para a região, leva os jovens a procurarem melhores condições de vida noutras regiões do país ou do estrangeiro. A convergência da região com a média do país pode até ser conseguida estatisticamente no curto prazo, pela via do decréscimo populacional, mas isso é também uma ameaça para o futuro da região por não ser sustentável a médio prazo. Nenhum dos grandes projectos previstos no Alentejo até 2030 terá impacto positivo em Portalegre. São eles o aeroporto de Lisboa em Alcochete (com impacto em Vendas Novas e Évora), a expansão do porto de Sines, a ligação ferroviária Sines-Badajoz, as “auto-estradas do mar”, a plataforma logística do Poceirão, a plataforma logística de Elvas/Caia, o caminho-de-ferro de alta velocidade, o IP8 Sines-Andaluzia, o aeroporto de Beja e a rede de rega de Alqueva.

O Alentejo pode estar em convergência mas o Distrito de Portalegre ficou esquecido dos governantes. Fica demasiado longe para ir de fim-de-semana e demasiado perto para criar uma centralidade própria. Não tem ouro, petróleo, portos, aeroportos nem pirites. Pessoas cada vez tem menos e as empresas que subsistem tentam sobreviver nesta dura realidade. Quando os governantes despertarem para este problema, talvez seja tarde demais. Será preciso começar tudo do zero: pessoas, empresas, estratégia e motivação!

Cada um de nós tem a sua responsabilidade própria que será tanto maior quanto a responsabilidade dos cargos ocupados e a capacidade de influência junto de quem decide!

Não deixemos o Alto Alentejo ficar esquecido!





Valor acrescentado bruto (VAB) é a soma da actividade produtiva, no decurso de um período, para uma determinada região. Resulta da diferença entre o valor da produção e o valor do consumo intermédio, excluindo impostos e subsídios; VAB = PIB – (impostos - subsídios)

 
 
 
Nuno Vaz da Silva in Jornal "Alto Alentejo", edição de 23 Março 2011

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

O Orçamento para 2011 nada resolve

Desde a chamada reentré partidária que a agenda mediática tem sido preenchida com notícias, comentários e desmentidos sobre o Orçamento de Estado. Discute-se quem aprova, quem viabiliza e quem vai pagar as más politicas públicas dos últimos anos. Não nego que se trata de um assunto muito importante na vida de todos e que importa estarmos informados para sabermos o que nos reserva o Estado para 2011. Ainda assim, e comparado com o real estado do País, este é um mero problema de conjuntura.

O que me surpreende é que poucos órgãos de comunicação social e poucas personalidades se preocupem com o pós 2011. Com este orçamento, depois de 2011 Portugal será um país mais pobre, com inúmeros desempregados e principalmente sem estratégia.

Neste momento, alguém sabe qual a estratégia de Portugal para sair da crise? Será que existe sequer alguma estratégia?

Com o aumento de impostos e o corte nos salários, os portugueses ficam com um poder de compra mais reduzido, o que originará menos consumo, menos poupança e menos investimento. Aos efeitos de uma eventual depressão, temos de adicionar o deficit da balança comercial. Se continuarmos a preferir importar em vez de produzir internamente, o tecido empresarial terá mais dificuldades em se estabelecer. Devemos ainda contar com o potencial aumento dos juros nos créditos assumidos pelos particulares e empresas (o que acontecerá com a recuperação da economia alemã). Assim, a concessão de crédito será mais cara e limitada. Não posso concluir que, neste cenário, o PIB possa aumentar em 2011!

Sistematizar este resultado é aparentemente fácil mas se já sabemos que 2011 vai ser difícil, o que será do País em 2012?

Se nada for feito, a divida pública continuará a aumentar e continuaremos também a empobrecer alegremente com sucessivos Planos de Estabilidade e “Crescimento”. O “Monstro” da Administração Pública continuará a engordar insustentavelmente! E não há PEC`s nem aumentos de impostos que o resolvam de uma vez!

O problema do país não é o deficit conjuntural mas sim o modelo económico assumido no pós 25 de Abril. Independentemente da intervenção do Estado na Economia que ideologicamente queiramos defender, a verdade é que não geramos suficiente receita para manter a estrutura de custos que temos (e que continuaremos a ter em 2011). Até podemos reduzir o deficit mas continuamos a aumentar a divida pública que ultrapassará os 86% do PIB já em 2010 (embora alguns estudos indiquem que já ultrapassámos 100% do PIB). Simplificando, e considerando os 86% estimados pela OCDE, se quiséssemos amortizar toda a divida do Estado num único ano, teríamos de colocar todos os portugueses a trabalhar 310 dias só para pagar a divida publica (isto sem considerar o valor dos juros). Como isso não acontecerá, a divida continuará a aumentar até que nos continuem a emprestar dinheiro. E, como “não há almoços grátis”, pagaremos juros cada vez mais caros na mesma medida em que estamos a asfixiar as gerações futuras, mesmo antes de nascerem!

Logo, este Orçamento que se discute até à exaustão é apenas um reflexo daquilo que os economistas já tinham perspectivado. É importante? Claro que sim! E resolve os problemas estruturais do país? Obviamente que não! Apenas os esconde por mais um ano. E em 2012, quem sabe se não voltamos a ter novas e maiores medidas de contenção financeira!

Portugal necessita sobretudo de uma discussão urgente quanto à estratégia do país, sobre o papel do Estado na Economia e qual o modelo de governação mais adequado e eficiente. Claro que os políticos não se interessam por isto porque vivem preocupados com as lutas partidárias e com as próximas eleições. Dado que os partidos deixaram também a ideologia de parte, terá de ser a sociedade a encontrar formas de estudar e discutir estes temas. Estou em crer que só assim poderemos aliviar a factura que estamos a deixar aos nossos descendentes!



Breve dicionário de termos económicos:

PIB – Produto Interno Bruto – representa a soma em termos monetários de todos os bens e serviços finais produzidos numa determinada região.

PEC – Plano de Estabilidade e Crescimento – conjunto de medidas implementadas, ou a implementar, que se destinam a reequilibrar as contas públicas e a recuperar o crescimento da economia.

Déficit Público – saldo negativo entre as Receitas e as Despesas públicas. Quando o saldo é positivo denomina-se superavit

 
 
Nuno Vaz da Silva in Jornal "Alto Alentejo", edição de 3 Novembro de 2010

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Triângulo Turístico Marvão – Castelo de Vide – Portalegre, uma região privilegiada!


“Há terras, lugares privilegiados. Têm alguma coisa que os individualiza, que os distingue, que faz distinguir os seus naturais. Clima, situação geográfica, hidrografia, geomorfologia, vegetação. Serão estes os factores chave? Ou serão antes os factores históricos, a dureza da vida, a experiência de séculos?” Assim começa o prefácio de Diamantino Sanches Trindade ao livro “Terras de Odiana” de Possidónio Laranjo Coelho, uma das mais notáveis obras escritas sobre os costumes, as gentes e a história da região que compreende os actuais concelhos de Marvão e Castelo de Vide.

Fala-se muito do triângulo turístico Marvão – Castelo de Vide – Portalegre mas para além dessa vertente turística, a região tem uma forte componente humana, social e de relacionamento com a natureza que a distingue. Muito daquilo que somos hoje se deve a factores históricos. E esses estão relacionados com aspectos endógenos da região como as nascentes de água, a qualidade dos terrenos, a beleza das paisagens e a situação geográfica. Durante anos, o Homem soube aproveitar a extraordinária riqueza desta região: Aproveitou a qualidade, a abundância e a diversidade das águas para consumo, para a agricultura e mesmo para a saúde. Utilizou os terrenos férteis para sobreviver e comercializar os produtos. Apoiou-se na geografia do terreno para se proteger e para ambicionar novas conquistas. E recorreu à capacidade de trabalho de muitos habitantes para desenvolver actividades industriais como a cortiça ou os lanifícios.
Hoje discutem-se os problemas regionais nos cafés, jornais ou nas redes sociais da internet, e de facto eles existem: Poucos empregos, fuga da população jovem para regiões e países mais desenvolvidos, vias de comunicação desajustadas, excessivo peso do sector público nos empregos existentes, poucas iniciativas do governo central para promoção do desenvolvimento, e desânimo progressivo da população face à situação económico-social da região.
Mas, mesmo considerando os problemas existentes, concordo com Diamantino Sanches Trindade quando refere que esta é de facto uma região privilegiada, a ver até pelo meu exemplo pessoal: Apesar de trabalhar em Lisboa continuo a ter saudades da vista deslumbrante de Marvão, da riqueza das fontes e brasões de Portalegre, do ambiente bucólico da vila e da vida social das gentes de Castelo de Vide, das feiras das cerejas, das cebolas, do verde dos soutos de castanheiros da encosta de Marvão, do sabor inconfundível das boleimas, das empadas, dos rebuçados de ovos e da groselha, do paladar dos vinhos, dos queijos e dos enchidos, do cheiro da terra molhada, das sombras da Portagem nos dias quentes de Verão, do espólio maravilhoso dos museus, das chaminés da Robinson que ainda “vejo” a cozer cortiça, saudades das cascatas, das nascentes e dos cursos de água, de ver os pássaros pelas costas nas muralhas de Marvão, das pedras cheias de história das antas, dos menires e da Ammaia, do nascer do sol em São Mamede e, sobretudo, saudades das pessoas! Não apenas da família e dos amigos mas saudades do olhar e da hospitalidade das gentes locais sempre disponíveis para ajudar quem delas necessita.
Vivemos alguns problemas económicos, isso é indesmentível, mas ninguém nos pode tirar a riqueza da nossa cultura, da nossa história e os atractivos que fazem desta uma região privilegiada.
Sou dos que consideram que esta é uma região com futuro, com potencial turístico e natural ainda por explorar. E, não sou seguramente o único. Quem vem a esta região geralmente volta e isso só acontece porque se sente bem por aqui, porque foi bem acolhido, porque viu paisagens únicas... porque sente saudades! Nos últimos tempos, o Tripadvisor elegeu Marvão um dos 10 segredos de viagens mais bem guardados, o The New York Times considerou o Alto Alentejo um destino desconhecido mas não por muito tempo, a revista da Easyjet descreveu o Parque Natural da Serra de São Mamede como uma zona de eleição para desfrutar da riqueza da natureza.
São boas notícias para esta região e para as terras de Garcia D`Orta, Mouzinho da Silveira e José Régio. São sinais que a “matéria-prima” continua a existir e é reconhecida internacionalmente. Marvão não foi eleita Património Mundial, Portalegre não está no mapa das Auto-Estradas, o Campo de Golfe foi uma desilusão mas o clima, a situação geográfica, a hidrografia, a geomorfologia e a vegetação são os mesmos de sempre, assim como o sangue dos naturais deste triângulo privilegiado é idêntico ao dos antepassados que conseguiram sobrepor os aspectos positivos às contrariedades da história e que fazem desta uma região a visitar, a saborear, a apreciar e onde se deseja regressar!

Nuno Vaz da Silva in Jornal "Alto Alentejo", edição de 8 Setembro de 2010

quarta-feira, 7 de julho de 2010

O estado da Nação

O estado da Nação alterou-se radicalmente nos últimos meses. Desde as últimas eleições legislativas que deram uma maioria relativa ao partido do Governo, Portugal registou inúmeras alterações ao nível económico, político e social.

Tivemos episódios de má governação e depois fomos obrigados pelos parceiros europeus a assumir as responsabilidades. Assistimos a ataques do próprio governo e da oposição ao Estado, e mais tarde uniram-se ficticiamente para “iludir” os parceiros externos. Foram anunciadas muitas medidas de aumento de impostos mas poucas de diminuição da despesa. E, acima de tudo, ouvimos os políticos e diversos comentadores falar sobre todos os assuntos mas não sabemos em quais acreditar.
Contudo, não é fácil eleger um de tantos assuntos para escrever umas linhas.
O estado do nosso país não é apenas sinónimo de dificuldades financeiras, de impostos a subir e de rendimentos a decrescer. Portugal é hoje um dos piores exemplos da economia na zona euro. Trata-se de uma economia com reduzida capacidade exportadora, com taxas de desemprego elevadas, grandes disparidades sociais e regionais, e com um tecido empreendedor que luta para ultrapassar as dificuldades da burocracia.
Há ainda um problema de valores inerente à actuação de muitos agentes políticos. Quando o Presidente da República decide contra a sua consciência, abdicando dos seus poderes em prol de questões de agenda política, algo de muito grave se passa nos valores da sociedade. O mesmo se verifica quando comentadores dizem que este ou aquele politico mentiu mas mais vale deixá-lo ficar no seu cargo porque a situação do país não suporta mais instabilidade. Temos ainda governadores de bancos que dizem uma coisa hoje porque estão num determinado cargo e amanhã dizem outra porque deixaram de ter o mesmo vínculo laboral…
É caso para dizer: Portugal, assim não vamos lá!
Este Estado em que não é preciso ser mas basta parecer não serve aos portugueses. A ilusão de que está tudo bem e que basta aumentar uns impostos para resolver uma crise não passa de maquilhagem. Os grandes problemas do país estão a montante e para esses necessitamos de medidas urgentes: Temos problemas na Justiça que continua demorada e com muitas ineficiências, na Educação que não prepara os jovens para serem empreendedores, na Administração Pública que é ainda demasiado burocrática, temos disparidades regionais com a inexistência de uma política de segmentação positiva do interior do país e, acima de tudo, existe dificuldade na identificação de líderes que sejam verdadeiros, que não sejam permeáveis a lobbies, que respeitem os contribuintes mas essencialmente que tenham um projecto estratégico para o país.
Os problemas podem ser resolvidos? Claro que sim! Então porque não se resolvem? Porque exigem soluções a médio prazo mas os governantes preferem gerir a sua carreira pessoal no curto prazo do que projectar o país no futuro!

Assim sendo, o que vai acontecer a Portugal?

Provavelmente continuará a ser o país de Fátima, do Futebol e do Fado. Desse Fado (destino) que podia/pode ser auspicioso mas que continuará a ser de saudade de um país vanguardista que já fomos mas tardamos voltar a ser!

Nuno Vaz da Silva in Jornal "Alto Alentejo", edição de 7 Julho de 2010

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Interioridade, o eterno problema ou a desculpa de sempre?

O conceito de interioridade tem servido para justificar todos os pontos fracos a que as regiões do interior estão relegadas. Fala-se de interioridade para explicar o êxodo migratório para o litoral, para desculpar a reduzida atractividade de investimentos e até para minimizar a falta de competitividade dos agentes económicos. Em suma, o conceito de interioridade serve de desculpa para todos os tipos de ineficiência das regiões do interior.

Quando os detentores de cargos públicos regionais e locais discursam, é vulgar ouvirmos o chavão “Interioridade” como se este conceito representasse uma doença degenerativa que inviabiliza todas as boas ideias e as supostas excelentes iniciativas que se querem levar por diante. Não se nega que o posicionamento geográfico é um dos factores que influencia o desenvolvimento regional mas não podemos aceitar que seja o bode expiatório para todos os insucessos públicos e empresariais. Factores como a falta de espírito empreendedor, a inexistência de políticas de marketing, a escassez de acessibilidades, o difícil recurso ao crédito ou mesmo a falta de mão-de-obra qualificada representam problemas mais graves para as regiões do que o posicionamento geográfico.
O aspecto positivo é que todos estes factores, à excepção do posicionamento geográfico, podem ser combatidos e corrigidos. Além disso, um “problema” que não tem solução, dificilmente pode ser considerado um problema!!!!
Não podemos ainda esquecer que existem localidades do interior que se têm desenvolvido e que devem ser encaradas como exemplo. À escala mundial, embora numa outra dimensão, Madrid, Paris, Berlim e Milão são cidades que não estão geograficamente posicionadas no litoral. A nível regional, temos também alguns exemplos de localidades do interior que têm sabido e conseguido utilizar a interioridade como uma vantagem. São disso exemplo Évora, Castelo Branco, Badajoz ou Cáceres.
Ou seja, a interioridade só por si não pode ser aceite como desculpa para as ineficiências de uma região ou localidade. Para além disso, se o posicionamento geográfico é das poucas coisas que não podem ser alteradas, mais vale saber aproveitar essa característica do que passar a vida a indicá-la como problema que limita os horizontes.
Há inúmeras oportunidades que podem e devem ser aproveitadas nas regiões do interior, desde que as entidades públicas definam um correcto e ambicioso plano de desenvolvimento territorial e empresarial sustentado por políticas estruturais dinâmicas.
Não nos lamentemos dos recursos que temos ou da falta deles! Mas façamos alguma coisa por resolver os problemas em que podemos interferir.

Nuno Vaz da Silva in Jornal "Alto Alentejo", edição de 7 Abril de 2010

quinta-feira, 4 de março de 2010

Portugal e o “fado” da Instabilidade



Portugal vive actualmente mergulhado num conjunto de problemas graves e que tardam a ser resolvidos. O desemprego continua a aumentar, a divida pública não pára de crescer, o produto interno cresce a um ritmo inferior à média comunitária, o maior partido da oposição continua dividido e com liderança enfraquecida, e o governo parece mais preocupado em maquilhar os dados do que em resolver os problemas.

O nosso país foi ainda arrastado pela crise económico-financeira mundial e continua vulnerável a potenciais novas recaídas dos mercados bolsistas.
É um cenário realmente preocupante e que devia levar à união de esforços para resolver os problemas através de soluções eficazes e sustentáveis. No entanto, não é exactamente isso que tem acontecido. O país contínua centrado em casos judiciais, fala-se no risco de eleições antecipadas e estamos em suspense com a nossa participação no Mundial de futebol…….sempre o futebol!
Portugal continua a não despertar para os verdadeiros problemas. Vive-se para a política e não para o país, discutem-se decisões judiciais, pondera-se combater a corrupção e brincamos às estatísticas. Mas não se apresentam soluções, não se discutem políticas, arranjam-se fait-divers para distrair a opinião pública.
Os principais culpados somos todos nós porque não participamos na política activa mas os políticos “profissionais” não estão seguramente isentos de culpa.
Portugal precisa de um novo paradigma de desenvolvimento, ou melhor, precisa de um verdadeiro modelo de desenvolvimento sustentável! Necessita de uma estratégia a médio prazo com objectivos concretos que potenciem as capacidades dos portugueses e do seu território. Não podemos continuar com a politica do litoral desenvolvido, abdicando do interior cada vez mais desertificado e esquecido. A política dos chavões, da demagogia e da amizade tem de dar lugar à competência, à responsabilização, ao mérito e à dedicação.

Para que ocorram estas alterações, o país tem de progredir, tem de abdicar do corporativismo instalado na sociedade, tem de modernizar a administração pública e diminuir o peso do Estado na sociedade, aumentando a competência nas suas principais tarefas como a Justiça, a Defesa e a gestão eficiente dos impostos dos contribuintes. E isso depende do Governo, dos Sindicatos, dos Partidos e das Associações, no fim de contas, depende de todos nós.
O cidadão comum, usualmente encolhe os ombros e prefere não dar opinião, não apresentar soluções, não exigir responsabilidades. Mas esta atitude tem de dar lugar a uma vivência social mais activa por parte de todos, seja em partidos políticos, nas empresas, em movimentos cívicos, na internet, e em ONGs.

Portugal necessita de uma liderança, precisa de um caminho e de uma esperança de futuro que catapulte a desmotivação generalizada para a ambição de sermos melhores e mais produtivos. Se todos querem ganhar no futebol (onde só jogam 11 portugueses), porque é que essa ambição ainda não transbordou para a vida de cada um de nós? Ser ambicioso representa um verdadeiro desígnio nacional que o Estado tem de apoiar com responsabilização, com ética e com rigor.
Muitos dizem que isso nunca acontecerá. Mas todos os que dizem isso, não se poderão queixar do Portugal que têm. Portugal tem de progredir e isso depende de todos mas principalmente de cada um! Não, não podemos dizer apenas que amanhã será diferente.
A mudança de paradigma tem de começar quanto antes, ou seja, hoje!

Nuno Vaz da Silva in Jornal "Alto Alentejo", edição de 03/03/2010

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Economia e Ambiente: bens substitutos ou bens complementares?



O ambiente e a economia são muitas vezes referenciados como dois bens substitutos. A ser verdade, isso significaria que não existe uma relação recíproca de complementaridade entre estes dois bens. Simplificando, a sociedade teria de escolher entre ter uma boa economia e um mau ambiente ou um bom ambiente e uma má economia. Mas será que o único mecanismo que gera riqueza obriga a que se abuse dos recursos naturais?

Os recursos naturais são obviamente a base da economia e todos os produtos que dão origem às trocas comerciais são retirados directa ou indirectamente da natureza. Para termos economia necessitamos de recursos naturais e, se não tivermos recursos, não temos economia. No entanto, dizer que são dois bens substitutos talvez não seja correcto por dois motivos fundamentais:

1- Uma economia estável e dinâmica apoia-se no chamado desenvolvimento sustentável. Este conceito representa um crescimento da actividade económica que não compromete as gerações futuras. Por outras palavras, o desenvolvimento sustentável implica a melhoria do bem-estar-social, considerando os aspectos económicos e ambientais, actuais e futuros.

2- O ambiente pode ser analisado como oportunidade de negócio sem que o tenhamos de sacrificar. Hoje em dia existem inúmeras actividades que se apoiam no ambiente e que podem ser geradoras de receitas, postos de emprego e fontes de dinamismo social, como por exemplo as energias renováveis, a reciclagem, a agricultura e silvicultura biológica, o turismo, o artesanato, a culinária e muitas outras.

A lógica do crescimento económico rápido e sem qualquer preocupação com a sustentabilidade está completamente ultrapassada. A economia dos nossos dias é a economia do desenvolvimento sustentável e não do crescimento a qualquer custo. Mesmo os países e regiões onde as preocupações ambientais estão no limiar da indiferença, terão de rever o seu posicionamento estratégico a curto prazo por imposições legais, por exigências sociais ou mesmo por insustentabilidade ambiental.
Em regiões com potencial turístico associado a condições naturais de excepção, o ambiente deverá ter ainda mais relevância e o desenvolvimento sustentável não pode ser um conceito vago. Certamente terá de existir uma boa dose de criatividade para gerar uma economia dinâmica sem comprometer o ambiente. Mas de nada serviria hipotecar o ambiente se esse é um dos maiores recursos. Não só é possível gerar (ao mesmo tempo) desenvolvimento económico e qualidade ambiental, como é desejável que assim aconteça. Com as ferramentas técnicas adequadas (muitas delas fornecidas pela Economia do Ambiente) é hoje possível efectuar inúmeras análises e relacionar items tão diversos como a poluição, o desemprego, a qualidade de vida e o rendimento. Afinal de contas, a economia não é uma ciência isolada das restantes e os efeitos de alterações ambientais têm necessariamente repercussões ao nível económico e vice-versa.

Ambiente e Economia são bens complementares e, na gestão de ambos, devemos recordar o Chefe Seattle na sua resposta (sobre a intenção dos EUA adquirirem o território ocupado pelos indígenas) ao presidente dos EUA Franklin Pierce em 1854:
“(…) Tudo o que agride a terra, agride os filhos da terra. O homem não tramou o tecido da vida; ele é simplesmente um dos seus fios. Tudo o que fizer ao tecido, fará a si mesmo (...)”

Nuno Vaz da Silva,
in Jornal "Alto Alentejo", edição de 06/01/2010