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segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Economia e Ambiente: bens substitutos ou bens complementares?



O ambiente e a economia são muitas vezes referenciados como dois bens substitutos. A ser verdade, isso significaria que não existe uma relação recíproca de complementaridade entre estes dois bens. Simplificando, a sociedade teria de escolher entre ter uma boa economia e um mau ambiente ou um bom ambiente e uma má economia. Mas será que o único mecanismo que gera riqueza obriga a que se abuse dos recursos naturais?

Os recursos naturais são obviamente a base da economia e todos os produtos que dão origem às trocas comerciais são retirados directa ou indirectamente da natureza. Para termos economia necessitamos de recursos naturais e, se não tivermos recursos, não temos economia. No entanto, dizer que são dois bens substitutos talvez não seja correcto por dois motivos fundamentais:

1- Uma economia estável e dinâmica apoia-se no chamado desenvolvimento sustentável. Este conceito representa um crescimento da actividade económica que não compromete as gerações futuras. Por outras palavras, o desenvolvimento sustentável implica a melhoria do bem-estar-social, considerando os aspectos económicos e ambientais, actuais e futuros.

2- O ambiente pode ser analisado como oportunidade de negócio sem que o tenhamos de sacrificar. Hoje em dia existem inúmeras actividades que se apoiam no ambiente e que podem ser geradoras de receitas, postos de emprego e fontes de dinamismo social, como por exemplo as energias renováveis, a reciclagem, a agricultura e silvicultura biológica, o turismo, o artesanato, a culinária e muitas outras.

A lógica do crescimento económico rápido e sem qualquer preocupação com a sustentabilidade está completamente ultrapassada. A economia dos nossos dias é a economia do desenvolvimento sustentável e não do crescimento a qualquer custo. Mesmo os países e regiões onde as preocupações ambientais estão no limiar da indiferença, terão de rever o seu posicionamento estratégico a curto prazo por imposições legais, por exigências sociais ou mesmo por insustentabilidade ambiental.
Em regiões com potencial turístico associado a condições naturais de excepção, o ambiente deverá ter ainda mais relevância e o desenvolvimento sustentável não pode ser um conceito vago. Certamente terá de existir uma boa dose de criatividade para gerar uma economia dinâmica sem comprometer o ambiente. Mas de nada serviria hipotecar o ambiente se esse é um dos maiores recursos. Não só é possível gerar (ao mesmo tempo) desenvolvimento económico e qualidade ambiental, como é desejável que assim aconteça. Com as ferramentas técnicas adequadas (muitas delas fornecidas pela Economia do Ambiente) é hoje possível efectuar inúmeras análises e relacionar items tão diversos como a poluição, o desemprego, a qualidade de vida e o rendimento. Afinal de contas, a economia não é uma ciência isolada das restantes e os efeitos de alterações ambientais têm necessariamente repercussões ao nível económico e vice-versa.

Ambiente e Economia são bens complementares e, na gestão de ambos, devemos recordar o Chefe Seattle na sua resposta (sobre a intenção dos EUA adquirirem o território ocupado pelos indígenas) ao presidente dos EUA Franklin Pierce em 1854:
“(…) Tudo o que agride a terra, agride os filhos da terra. O homem não tramou o tecido da vida; ele é simplesmente um dos seus fios. Tudo o que fizer ao tecido, fará a si mesmo (...)”

Nuno Vaz da Silva,
in Jornal "Alto Alentejo", edição de 06/01/2010

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