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quarta-feira, 30 de maio de 2012

O que ganhámos com a Troika?


Desde 2011 que os portugueses têm sofrido as consequências das medidas de austeridade que foram tomadas na sequência do acordo com a Troika. Em época de contenção orçamental é habitual criticar as politicas impostas e os efeitos das mesmas para os contribuintes. Sabemos perfeitamente o que perdemos com a entrada da Troika no nosso país! Mas saberão os portugueses o que ganharam com a troika?

O recurso à Troika, constituída pelo Fundo Monetário Internacional, Comissão Europeia e Banco Central Europeu, foi uma solução de fim de linha. Só pede ajuda externa (e aceita a imposição de condições do exterior) quem já não tem hipóteses para resolver sozinho os seus problemas. Portugal pediu ajuda porque precisava de dinheiro com urgência. Esse dinheiro tinha como objectivo pagar salários, pensões, subsídios e ainda liquidar dividas aos credores, que anteriormente já nos tinham emprestado verbas para gastos e/ou investimentos. Sem a Troika, os portugueses teriam ficado sem receber estes rendimentos e os nossos credores ficariam impossibilitados de recuperar o capital financiado, o que geraria uma enorme crise de expectativas e o inevitável fim do crédito externo.

Com a ajuda internacional, pudemos continuar a receber salários, pensões e subsídios e continuámos a ser um país que respeita os compromissos assumidos ao liquidar as dívidas perante os investidores. Mas, além destas vantagens de índole financeira, Portugal ganhou também uma maior eficiência na gestão das contas públicas, sem contemplações para interesses partidários e/ou de grupos de interesse. O apoio da Troika tornou possível a identificação de lacunas e erros na organização do Estado, na gestão de entidades e empresas públicas, autarquias e regiões autónomas, evitando (pelo menos para o futuro) gastos que seriam ainda mais gravosos se continuassem a ser feitos.

É verdade que as medidas impostas pela Troika são bastante difíceis para todos e podemos até discutir se, em função das especificidades do nosso país, são ou não as mais adequadas. Mas quando falamos dos prejuízos que a Troika nos trouxe, não podemos deixar de imaginar como seria viver num país em bancarrota (ou seja, sem pagar salários, pensões ou subsídios e que não teria mais dinheiro do exterior por não cumprir as responsabilidades assumidas com os credores). Se nenhuma medida de ajustamento tivesse sido tomada, continuaríamos a ser um país com problemas de gestão pública, despesismo não contabilizado e com muitas outras ineficiências por resolver.

Não se trata de apoiar as medidas de um ou outro partido. Aliás, as três principais forças politicas concordam com o plano de ajustamento que está em curso! Trata-se de optar pela solvabilidade sob condições ou pela bancarrota sem misericórdia! E ninguém se iluda porque só seria possível renegociar dividas se ambas as partes (devedor e credores) estivessem de acordo com as condições da renegociação. Mesmo os que defendem o crescimento a qualquer custo, não se devem esquecer que o crescimento sem rigor, é insustentável e perverso no médio prazo!

É relativamente simples e populista afirmar que o plano de ajustamento é mau, que podíamos ter optado por outro caminho ou que as condições impostas são demasiado rígidas. Mas ao fazer isso, devemos indicar qual seria esse caminho e de que forma poderíamos ter uma melhor solução para os problemas do país.

Aos políticos exige-se que apresentem argumentos verdadeiros e que não tentem angariar votos pela demagogia simplista de identificar apenas os prós ou os contras de uma política! Da comunicação social espera-se isenção perante as soluções dos problemas e a explicação dos pontos positivos e negativos das decisões tomadas pelos políticos! Só assim poderemos ser uma sociedade mais evoluída e melhor esclarecida!


Nuno Vaz da Silva
Economista


artigo publicado na edição de 30/05/2012 do jornal "Alto Alentejo"

sábado, 19 de maio de 2012

Discurso/ intervenção por ocasião do jantar comemorativo dos 10 anos de fim de curso Economia - FEUNL 1998-2002


Caros amigos,

Dado que é (pelo menos) o quinto jantar que organizo após conclusão do curso, penso que tenho o direito mas principalmente o dever de dizer algumas palavras!
Ter 70 colegas aqui reunidos passados 10 anos é um facto único na história da Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa! Obrigado a todos os presentes!
Muitos não podem estar aqui hoje porque estão fora do país, outros por razões várias (desde festas familiares a viagens) e algumas colegas foram mães recentemente (ainda bem porque eu gostaria de receber reforma um dia)!
Há também colegas que já não estão entre nós mas não nos esquecemos deles, como é o caso do Filipe Luelmo!
Em 10 anos ficámos mais velhos, mais gordos, com mais rugas (tirando eu que estou obviamente na mesma ou ainda mais jovem). Mas ficámos também mais experientes, conhecemos mais pessoas, temos mais memórias!
10 anos passaram depressa, demasiado depressa!
Há 10 anos atrás, quando nos perguntavam em entrevistas de emprego o que gostaríamos de estar a fazer hoje, duvido que a maioria tivesse acertado nessa premonição. Ou pelo menos, pensaríamos ter melhores condições financeiras e estar a viver num país mais e melhor desenvolvido.
Voltando ao que disse no inicio, este grupo de Economistas é único! Tem um grande espírito de grupo que se reveste nas saudades e desejos do reencontro!

Mas atrevo-me a dizer que aproveitamos mal essa força que nos distingue por dois motivos:

O primeiro motivo está relacionado com o networking que poderíamos desenvolver! Temos aqui colegas que estão nas mais variadas entidades e em diversos países. Mas temos também colegas que se interessam pelas mais diversas áreas: Finanças, Empreendedorismo, Politica, Acção Social, Estratégia. Reparem que não colocamos em acção o nosso potencial de promover redes, de nos lembrarmos dos nossos colegas na nossa actividade profissional quotidiana. Isto que digo não é nada novo! Para além de vir nos livros de gestão, a Universidade Católica coloca em acção estas orientações! E nós não só podemos fazer o mesmo como podemos fazer muito melhor!

O segundo motivo relaciona-se com um comentário que ouvi a um economista com o qual nem sempre concordo. Paul Krugman disse o seguinte na conferência que deu por ocasião do seu triplo doutoramento honoris causa em Lisboa:
“Todo o economista de verdade deve tentar influenciar a politica” e disse mais, “estes não são tempos normais, são tempos de agir”

Claro que muitos de vós alega não ter tempo para agir fora das entidades profissionais mas a realidade é que a maior parte foge destas questões! No entanto, duvido que algum dos presentes não tenha uma opinião sobre o país, sobre as politicas tomadas e sobre as eventuais soluções que poderiam ser implementadas, com maior eficiência. Quando se fala em políticas, não podemos pensar só nas politiquices nem nos partidos. Há politicas nas empresas, nas associações, nas IPSS, nos hospitais… Estamos rodeados de politicas e não podemos ignorar as nossas posições, ou seja, nossa capacidade de influenciar essas mesmas politicas! Ser economista é também isso!
Dirão: este tipo pirou de vez! Provavelmente terão razão! Posso também estar errado mas não é isso que sinto quando falo com cada um de vós! Apenas é usual perceber o receio colectivo em divulgar para o público o que vos vai na alma!
Mas amigos, o tempo passa depressa demais! Qualquer dia estaremos a comemorar os 20 anos de fim de curso! E nessa data gostava que estivéssemos mais orgulhosos ainda pelo que conseguimos, não apenas em termos pessoais, não apenas em termos profissionais mas também em prol da sociedade e do nosso país!

E dou alguns exemplos:

 Por exemplo, porque não tentamos fazer uma lista para concorrer à Ordem dos Economistas! Obviamente que seria para ganhar mas também para perceber qual a nossa capacidade de mobilização e comunicação!??

Outro exemplo, porque não tentar seleccionar uma Instituição de caridade e utilizar os conhecimentos de economia para a projectar socialmente e economicamente?

Mais um exemplo, porque não reavivar a Associação de Antigos Alunos da FEUNL e promover o networking entre antigos, menos antigos e novos alunos que estão na mesma entidade profissional?

E um ultimo exemplo para terminar, porque não aproveitar as potencialidades das novas tecnologias e das redes sociais para fazermos loby em rede?

Estas são apenas algumas dicas! Se este grupo é realmente excepcional, isso significa que podemos fazer mais, fazer melhor e dar qualquer coisa à sociedade! Neste momento de comemorações, não podia deixar de fazer este reparo, desejando que tenham gostado da iniciativa e que o prazer do reencontro nos dê o impulso que necessitávamos para sermos mais Economistas, pela definição do Krugman! Voltando a citar:
“Todo o economista de verdade deve tentar influenciar a politica” (…) “estes não são tempos normais, são tempos de agir”


Para terminar, gostaria de fazer um brinde a nós próprios e desejar a todos muita saúde, com muitos sucessos profissionais e que o próximo jantar seja ainda mais participado!!!!



Nuno Vaz da Silva, 19 Maio de 2012, Palacete Henrique Mendonça em Lisboa