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quinta-feira, 8 de abril de 2010

Interioridade, o eterno problema ou a desculpa de sempre?

O conceito de interioridade tem servido para justificar todos os pontos fracos a que as regiões do interior estão relegadas. Fala-se de interioridade para explicar o êxodo migratório para o litoral, para desculpar a reduzida atractividade de investimentos e até para minimizar a falta de competitividade dos agentes económicos. Em suma, o conceito de interioridade serve de desculpa para todos os tipos de ineficiência das regiões do interior.

Quando os detentores de cargos públicos regionais e locais discursam, é vulgar ouvirmos o chavão “Interioridade” como se este conceito representasse uma doença degenerativa que inviabiliza todas as boas ideias e as supostas excelentes iniciativas que se querem levar por diante. Não se nega que o posicionamento geográfico é um dos factores que influencia o desenvolvimento regional mas não podemos aceitar que seja o bode expiatório para todos os insucessos públicos e empresariais. Factores como a falta de espírito empreendedor, a inexistência de políticas de marketing, a escassez de acessibilidades, o difícil recurso ao crédito ou mesmo a falta de mão-de-obra qualificada representam problemas mais graves para as regiões do que o posicionamento geográfico.
O aspecto positivo é que todos estes factores, à excepção do posicionamento geográfico, podem ser combatidos e corrigidos. Além disso, um “problema” que não tem solução, dificilmente pode ser considerado um problema!!!!
Não podemos ainda esquecer que existem localidades do interior que se têm desenvolvido e que devem ser encaradas como exemplo. À escala mundial, embora numa outra dimensão, Madrid, Paris, Berlim e Milão são cidades que não estão geograficamente posicionadas no litoral. A nível regional, temos também alguns exemplos de localidades do interior que têm sabido e conseguido utilizar a interioridade como uma vantagem. São disso exemplo Évora, Castelo Branco, Badajoz ou Cáceres.
Ou seja, a interioridade só por si não pode ser aceite como desculpa para as ineficiências de uma região ou localidade. Para além disso, se o posicionamento geográfico é das poucas coisas que não podem ser alteradas, mais vale saber aproveitar essa característica do que passar a vida a indicá-la como problema que limita os horizontes.
Há inúmeras oportunidades que podem e devem ser aproveitadas nas regiões do interior, desde que as entidades públicas definam um correcto e ambicioso plano de desenvolvimento territorial e empresarial sustentado por políticas estruturais dinâmicas.
Não nos lamentemos dos recursos que temos ou da falta deles! Mas façamos alguma coisa por resolver os problemas em que podemos interferir.

Nuno Vaz da Silva in Jornal "Alto Alentejo", edição de 7 Abril de 2010

1 comentário:

  1. Concordo com a ideia que se institucionalizou de que a interioridade é a causa de todos os males na nossa região. Isso descreve em parte a falta de sentido crítico e pró actividade que a maior parte dos nossos políticos tem tido com a situação e o fatalismo a que se entregaram em troca de algumas migalhas estatais...

    Excelente artigo e um bom tópico para reflexão.

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