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quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Triângulo Turístico Marvão – Castelo de Vide – Portalegre, uma região privilegiada!


“Há terras, lugares privilegiados. Têm alguma coisa que os individualiza, que os distingue, que faz distinguir os seus naturais. Clima, situação geográfica, hidrografia, geomorfologia, vegetação. Serão estes os factores chave? Ou serão antes os factores históricos, a dureza da vida, a experiência de séculos?” Assim começa o prefácio de Diamantino Sanches Trindade ao livro “Terras de Odiana” de Possidónio Laranjo Coelho, uma das mais notáveis obras escritas sobre os costumes, as gentes e a história da região que compreende os actuais concelhos de Marvão e Castelo de Vide.

Fala-se muito do triângulo turístico Marvão – Castelo de Vide – Portalegre mas para além dessa vertente turística, a região tem uma forte componente humana, social e de relacionamento com a natureza que a distingue. Muito daquilo que somos hoje se deve a factores históricos. E esses estão relacionados com aspectos endógenos da região como as nascentes de água, a qualidade dos terrenos, a beleza das paisagens e a situação geográfica. Durante anos, o Homem soube aproveitar a extraordinária riqueza desta região: Aproveitou a qualidade, a abundância e a diversidade das águas para consumo, para a agricultura e mesmo para a saúde. Utilizou os terrenos férteis para sobreviver e comercializar os produtos. Apoiou-se na geografia do terreno para se proteger e para ambicionar novas conquistas. E recorreu à capacidade de trabalho de muitos habitantes para desenvolver actividades industriais como a cortiça ou os lanifícios.
Hoje discutem-se os problemas regionais nos cafés, jornais ou nas redes sociais da internet, e de facto eles existem: Poucos empregos, fuga da população jovem para regiões e países mais desenvolvidos, vias de comunicação desajustadas, excessivo peso do sector público nos empregos existentes, poucas iniciativas do governo central para promoção do desenvolvimento, e desânimo progressivo da população face à situação económico-social da região.
Mas, mesmo considerando os problemas existentes, concordo com Diamantino Sanches Trindade quando refere que esta é de facto uma região privilegiada, a ver até pelo meu exemplo pessoal: Apesar de trabalhar em Lisboa continuo a ter saudades da vista deslumbrante de Marvão, da riqueza das fontes e brasões de Portalegre, do ambiente bucólico da vila e da vida social das gentes de Castelo de Vide, das feiras das cerejas, das cebolas, do verde dos soutos de castanheiros da encosta de Marvão, do sabor inconfundível das boleimas, das empadas, dos rebuçados de ovos e da groselha, do paladar dos vinhos, dos queijos e dos enchidos, do cheiro da terra molhada, das sombras da Portagem nos dias quentes de Verão, do espólio maravilhoso dos museus, das chaminés da Robinson que ainda “vejo” a cozer cortiça, saudades das cascatas, das nascentes e dos cursos de água, de ver os pássaros pelas costas nas muralhas de Marvão, das pedras cheias de história das antas, dos menires e da Ammaia, do nascer do sol em São Mamede e, sobretudo, saudades das pessoas! Não apenas da família e dos amigos mas saudades do olhar e da hospitalidade das gentes locais sempre disponíveis para ajudar quem delas necessita.
Vivemos alguns problemas económicos, isso é indesmentível, mas ninguém nos pode tirar a riqueza da nossa cultura, da nossa história e os atractivos que fazem desta uma região privilegiada.
Sou dos que consideram que esta é uma região com futuro, com potencial turístico e natural ainda por explorar. E, não sou seguramente o único. Quem vem a esta região geralmente volta e isso só acontece porque se sente bem por aqui, porque foi bem acolhido, porque viu paisagens únicas... porque sente saudades! Nos últimos tempos, o Tripadvisor elegeu Marvão um dos 10 segredos de viagens mais bem guardados, o The New York Times considerou o Alto Alentejo um destino desconhecido mas não por muito tempo, a revista da Easyjet descreveu o Parque Natural da Serra de São Mamede como uma zona de eleição para desfrutar da riqueza da natureza.
São boas notícias para esta região e para as terras de Garcia D`Orta, Mouzinho da Silveira e José Régio. São sinais que a “matéria-prima” continua a existir e é reconhecida internacionalmente. Marvão não foi eleita Património Mundial, Portalegre não está no mapa das Auto-Estradas, o Campo de Golfe foi uma desilusão mas o clima, a situação geográfica, a hidrografia, a geomorfologia e a vegetação são os mesmos de sempre, assim como o sangue dos naturais deste triângulo privilegiado é idêntico ao dos antepassados que conseguiram sobrepor os aspectos positivos às contrariedades da história e que fazem desta uma região a visitar, a saborear, a apreciar e onde se deseja regressar!

Nuno Vaz da Silva in Jornal "Alto Alentejo", edição de 8 Setembro de 2010

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